O Mudinho

o-mudinho.jpg

I

Isso é sobre demência.

É a dança da manivela.

A primeira coisa é quanto à identificação, aquela coisa de quando você lê um texto do seu autor predileto, que sempre é um inteligente, um bom articulador de palavras e argumentos e você se identifica profundamente, como se ele conseguisse registrar, aquilo que você não consegue, com as idéias que você queria ter tido, como se ele desse uma voz rebuscada para o seu pensamento, consegue atingir o grau máximo de sinceridade e toca sua alma como se comutasse da mesma contigo. É como se fosse você.

É…

Essa não é a pretensão. Não há escrúpulos.

Leia em voz alta agora: escrúpulos, não há.

Pense antes de tudo que isso foi escrito pelo sujeito que praticou cunilingua na sua mãe, que enfiou o pau na garaganta da sua irmã ou irmão, que fodeu o cu do seu namorado ou namorada. Que gozou na boca da tua filha (o) e fechou lhe a boca, nariz e esfregou lhe a garganta para que engolisse tudo, o crápula sem escrúpulos. Pense que ele é próximo de você e que cada um desses seus parentes embarcou consciente na viagem de mal gosto dele. E quando eu digo mal gosto, é com mal com éle.

Leia no dicionário o que diz de mau e depois de mal.

Eu não acredito no seu deus e provavelmente estou contra ele. Jesus não voltará e se voltar, nem você nem eu perceberemos. Acredito no diabo e consigo ver a boca do inferno escancarada.

Foi o prefacio.

II


Agora o post dificium:

Meu vovô me contou uma historia muito interessante, era sobre o Quarto dos mudinhos: Segundo ele no interior do sul haviam muitos casamentos de consangüíneos e as famílias eram muito religiosas, ou seja, sabiam que só se podia trepar para ter filhos e por isso trepavam o tempo todo sem medidas contraceptivas, tendo de oito a catorze filhos, o que resultava numa prole com diversificadas anomalias: crianças com três mamilos, com pelos na cara, com membros a menos e a mais, surdos,os retardados, mongóis e epilépticos. Todos esses eram carinhosamente apelidados de ‘mudinhos’. As famílias tinham seus mudinhos que ficavam socados nos quartos do fundo, e quando haviam festas e todas famílias se reuniam, os mudinhos eram transferidos para o Quarto dos mudinhos.

-Ô fulana, tudo bem? Comé que vai sicrano? E os filhos? Eu trouxe esse pernil de porco tem essa galinha pra empregada matar, e um manjar que eu fiz pra sobremesa… onde é que eu deixo o meu mudinho?

Você não achou engraçado, né? Ta tudo bem, conforme o planejamento, só tem graça quando há identificação. Por isso que você fica rindo daquela merda de Seinfield.

Se essa historia do mudinho existiu, foi há muito tempo atrás. Vovô é um filho da puta muito sagaz, às vezes ele inventa histórias que beiram a fantasia, mas soam reais. Ele salpica historias absurdas verdadeiras comprovadas com fotos e relatos no meio das mentiras. Nunca sabemos o que é e o que não é de fato real. Às vezes a mentira dele reside no fato mais simplório da história e o grotesco é real. Às vezes ele inventa a merda toda e outras se alonga numa vasta e inspirada ficção sobre os velhos tempos. Cria todo um cenário, personagens e o desfio está no improviso, ele adorava ser interrompido por uma pergunta e responder de imediato algo coerente. Nunca nos prestamos a investigar demais os fatos, as historias bastavam por si só, eram incríveis. Nos identificávamos.


Herdei essa paixão pela ficção do vovô, mas não sua capacidade de improviso. Tenho que ficar sentado diante de uma maquina de escrever ou de uma prancheta para destilar minhas longas mentiras salpicadas de verdade. O segredo está em contar o real com o máximo de fantasia e o fictício com o máximo de detalhes e realismo.

III

Violei um mudinho uma noite dessas. O que eu to escrevendo é quase um pedido de desculpas a ele. Ainda falta muito remorso para que seja.

Mudinhos são a melhor visão de anjo que eu tenho. É a inocência preservada ao longo dos anos. Os mudinhos de hoje são os doidinhos da rua. Não temos mais o quarto dos mudinhos. Aqui onde moro os mudinhos ficam soltos na rua, os mais bem dotados vigiam carro, os outros ficam perambulando por aí, batendo punheta na rua, andando com cachorros, chutando carros, babando, empurrando pneu na faixa verde e etc.

O mudinho do caso não é nenhum desses, ele é mais bem apessoado. Tem cabelos grandes, dentes tortos, alto e magro, pesa no máximo cinqüenta quilos. Ele é movido por um forte apetite sexual. Se descobriu homossexual e gosta de dar a bunda por aí. Sai de madrugada não sei donde, bem vestido, com o cabelo besuntado em creme e fica na beira da rua balançando a mão pra qualquer carro parar e dar um trato no esfíncter anal dele. Dezenas de vezes voltando das madrugadas vi esse mudinho acenando pra mim.

IIII

Eu tinha perdido o tampo do meu dedo mindinho da forma mais esdrúxula, a qual recuso-me a contar, o que importa é que isso dói pra caralho e mais ainda quando encosta em qualquer lugar, e me parece que um dedo mindinho esfolado tem vontade própria e cria um magnetismo por quinas de portas e mesas. Tinha batido o carro no dia anterior de outra forma mais ridícula ainda. E pra finalizar, fazia tempo que eu não comia ninguém o suficiente para que a tensão sexual inundasse minha cabeça com uma névoa turva que eu mal podia prever ou pensar qualquer coisa decente e planejada. Quando isso acontece você tem três opções: uma: masturba-se profilaticamente para manter um resquício de humanidade e conseguir conversar com as pessoas, duas: fuma, bebe e toma drogas e três: paga um traveco, puta ou michê para esvaziar o seu escroto. Masturbei-me o dia inteiro, fumei, bebi e foi insuficiente. Quis comer uma puta, mas o carro e a clínica já haviam esgotado os meus bolsos. Pois bem, pensei, se a porra daquele mudinho estiver na beira da rua, vou lhe ao cu e no dia seguinte com o saco vazio e a cabeça limpa, o remorso há de me livrar dos meus males.

Não deu outra, o filha da puta estava na rua, só que dessa vez bem longe do seu ponto tradicional, deve ter resolvido mudar a freguesia, estava numa parada de ônibus entre uma cidade e outra, uns oito quilômetros de distancia da cidade, com uma vasta mata do cerrado em volta. Perfeito. Parei o meu carro enviesado na parada, antes que ele quisesse entrar, travei a porta do passageiro por dentro e sai trancando o carro. O mudinho começou a falar e não dá pra entender porra nenhuma que o desgraçado fala, fora o mau hálito de bosta de cachorro. –eu vou comer seu cu mudinho, vamo ali pro mei do mato. Ele entendeu e foi rebolando com as mãos ossudas balançando extendidas ao redor do quadril. Ficou meio decepcionado, devia querer um pouco de carinho. O que movimentaria um sujeito tão longe numa hora daquela que não requeresse um mínimo de carência afetiva, de amor. Eu mesmo não tinha carinho nenhum pra dar, eu tinha o meu problema e queria resolvê-lo da forma mais direta e asséptica o possível.

V

Andamos uns dez minutos, o mudinho me abraçou de lado para andarmos juntos e aí foi gradativamente me surgindo desprezo e arrependimento. Já não podia mais fazer nada, já estávamos ali. Vamos ao que viemos: –Tá bom aqui, fica de quatro aí no chão. O mudinho obedeceu. Fui lá, baixei a calça do mudinho que usava uma calcinha fio dental vermelha por baixo, e tive uma visão inesquecível. Ele era tão magro que os ossos faziam relevos e sua traseira era como a de uma vaca moribunda, completamente desbundado e ossudo, tão seco que o cu brotava como uma rosca de queijo no meio da planície da bunda, como uma bóia de criança no meio da piscina vazia, mais pra cima tinham os calombinhos do cóccix, sacro e da coluna, pra baixo o saco murcho com os dois ovos pendendo, nitidamente um para cada lado. Baixei lhe a calcinha pra testemunhar tamanha repugnância com mais completude e eis que sou tomado por um nojo de dimensões extraordinárias. Aos doze anos fui espancado e humilhado na rua e foi o meu máximo de ódio, certa vez amei uma menina por cinco anos e achei que ia morrer sufocado por esse sentimento, foi o meu máximo de amor. Nada disso se compara ao sentimento daquele momento. Foi a soma de tudo. Foi o grande momento de percepção dos significados da minha vida. Levantei me na posição de homo sapiens, flexionei o joelho levando o calcanhar perto da minha nádega esquerda depois extendi com o máximo de força que podia ao mesmo tempo em que girava o quadril no sentido horário e projetava o pé mirando a linha enrugada que há no saco entre as duas bolas mudinho.

VI

Essa é uma historia difícil de se contar. Não há desculpas, não há desastres, azares e tensões sexuais que expliquem o que eu fiz, fui tomado por forças maiores que me levaram a um grau de brutalidade desfiguradora. Eu só estou escrevendo isso porque é o que eu gostaria de achar por aí e ler; quero poupar as duas ou três pessoas que se identificarem com isso de fazerem algo tão horrendo quanto. E é com muito pesar que lhes informo que se vocês conseguiram ler isso até aqui, estão na mesma barreira de inescrupulosidade que me encontro, a alma de vocês é tão imunda que não há salvação. Não há paraíso para vocês, deus não lhes reservou um lugar no céu, não importa o quanto vocês pagaram de dizimo, nem quantos Avemaria, Painosso, Creio ou Salverainha rezaram. Não importa o quanto se arrependeram do que fizeram nem quantos pobres ajudaram.

Feito o que fiz, coloquei o mudinho devidamente vestido e desacordado no banco do passageiro e desovei-o no hospital. O mudinho foi rapidamente atendido, sedado e tratado, prestei meu testemunho e cumpri todas as medidas legais decorrentes no hospital e na delegacia, sempre citando o todo poderoso e a graça divina de ter me posto no caminho daquela criatura maltratada.

 

Uma resposta to “O Mudinho”

  1. Anônimo Says:

    KRKIIHDSWDOKDFKFPOIXS´PAEPEIPOG
    MEU PAU EM TEU CU E EM TUA BUCETA

Deixe um comentário